segunda-feira, 10 de setembro de 2007

DÊ UM TEMPO PARA A MORTE





"Um morre em pleno vigor, completamente despreocupado e tranqüilo, os seus baldes estão cheios de leite, e a medula de seus ossos cheia de tutano. Outro morre, ao contrário,
na amargura do seu coração, não havendo provado do bem.
Juntamente jazem no pó, e os vermes os cobrem". (Jó 21:23-26)
(Questionamento e constatação de Jó - o justo - acerca da ceifa da morte.)

A morte sempre nos leva a questionamentos mil e a constatações sem conta e sem nexo.
A morte de um ente querido, por exemplo, provoca uma ruptura tão forte que requer reajustamentos, tanto no modo de encarar o mundo como nos planos de se continuar vivendo nele.

Esses reajustamentos precisam de tempo, e tempo significativo, para que possa haver uma nova adaptação à vida.
Com base nisso, tomo a liberdade para fornecer algumas dicas acerca do assunto:

1.) DÊ UM TEMPO PARA ACEITAR A MORTE

A compenetração da realidade da morte acontece gradualmente.
De nada adianta ter respostas imediatas para essa realidade porque, quaisquer que sejam elas, no mínimo, serão racionais, nada condizentes com a dor que o assola, carregada de caráter emocional.
A primeira coisa a fazer é tentar compreender o que aconteceu.
O entendimento do que ocorreu tem início na admissão do fato - a morte de seu ente querido.
Admitindo que o seu amado se foi, um segundo fato deve ser admitido, ou seja: você ficou e não irá juntar-se a ele.
Entretanto, restaram-lhe pedaços fragmentados, sobras por demais desfiguradas.
Trate de juntá-los, consertá-los, restaurá-los e tratar de seguir em frente construindo um novo arcabouço.

2.) DÊ UM TEMPO PARA A PARTIDA DE SEU ENTE QUERIDO

Uma das mais difíceis experiências do ser humano é a partida.
Ocorre que do nascimento até à morte, a vida é recheada de partidas, algumas temporárias e outras definitivas.
As partidas servem para lembrar que não há controle absoluto sobre a vida.
Sendo assim, o segredo é aceitar conformado a tudo aquilo que não pode ser controlado.
Alguns escapistas, nesses momentos, tentam fazer o papel de Deus, e o fazem porque descobrem que ser gente é algo por demais doloroso para aguentar.
O bom ajuste para existir tem que passar pela liberação daquilo que antes você tratava por "nós", e conformar-se ao que lhe restou, o "eu" - ou seja, você mesmo.
A presença física de quem se foi, deve ser substituida por uma lembrança agradável que se instaura até tomar seu lugar por inteiro.

3.) DÊ UM TEMPO PARA FAZER NOVOS AMIGOS

A tristeza, a dor, a solidão, o abandono, todos têm o seu tempo correspondente.
Mas passado o tempo correspondente de cada um, seu coração, necessariamente, tem que se abrir para a entrada dos substitutos. Esse é o único modo que a natureza tem para refazer os corações partidos.
O desafio é aprender a conviver criativamente com a solidão, portanto, aproveite sua presença para expandir sua auto-compreensão e sua riqueza interior.
Mais rápido do que você pensa, seu coração se abrirá a quem está prestes a se aproximar de você através de comunicação afetuosa e envolvente.

4.) DÊ UM TEMPO PARA O AMOR

A liberação do sofrimento acontecerá quando você se sentir amado e necessário a alguém mais.
Capacite-se a prestar assistência, isso lhe fornecerá um novo sentido à vida ao colocar sua experiência a serviço de outrém.
Ajudar os outros é a chave para você auxiliar-se a si próprio.
Neste patamar, ninguém mais poderá roubar sua dor, mesmo porque ninguém poderá mais roubar seu amor.
Esse é o chamado para a vida, chamado que se contrapõe ao chamado para a morte.
O chamado ao aprendizado, aprendizado do amor.

Existe uma grita geral que diz que o tempo cura todas as feridas.
O tempo, por si mesmo, nada cura, é o que é feito com ele que cura todas as feridas.
E como leva tempo para se amar a alguém, também leva tempo para que o amado se afaste definitivamente de tão íntimo convívio.

Dê tempo - algum tempo - dê tempo para morte.
Mas, dê tempo para a vida também.

"Eu sei que tudo podes, nenhum dos teus planos pode ser impedido". (Jó 42:2)

TÉRCIO DE PAIVA FARIAS

Um comentário:

darlene santos disse...

Pr. Tércio, seu grandioso artigo a respeito do tema, me deixa menos órfã da morte do meu querido marido, e com um pouco mais de esperança de vida após a elaboração deste luto, ficando a sós, p/ continuar uma vida q era a dois, corremos o risco de nos perdermos em nossa solidão.
Parabéns
um grande abraço