sexta-feira, 10 de agosto de 2007

UMA EXPERIÊNCIA DE DOENÇA E RESTAURAÇÃO





Uma data que não esquecerei: primeiro de abril de 2003, uma terça-feira de calor e sol, com ventos moderados e céu de azul anil.
Vinha caminhando da padaria ali perto, com desconforto interno e com dificuldade para dar os passos devidos, quando eis que de repente, as forças me faltaram e eu não consegui mais andar.
Estatelei-me no chão com dores generalizadas.
Sentia a vista enevoada e a vida esvair-se lentamente, e um pensamento a tomar conta de meu cérebro: está chegando o meu fim nesta Terra.

Levaram-me às pressas para um Pronto Socorro não muito distante de casa, e mesmo com uma razoável fila de espera, fui atendido preferencialmente, talvez devido ao meu crítico estado.
Entretanto, preciso confessar que tinha ao lado um médico amigo - dr. Carlos Consolmagno - que interveio a meu favor para que isso assim ocorresse.

Deram-me oxigênio de cara, perceberam que eu não tinha mais força para aspirar o ar que necessitava, tucharam plasil, coletaram sangue, tiraram radiografia do pulmão, eletrocardiograma, mediram pressão, temperatura, e só depois de tempão, é que comecei a dar uma melhoradinha de leve.

Fiquei ali de molho, meio sonado, a espera dos resultados.
Em certa hora, fui informado que não havia vaga alguma em qualquer dos hospitais da cidade, portanto, teria que passar a noite toda onde estava: no Pronto Socorro de Piracicamirim.
Minha esposa saiu, trouxe comida e ficou de vigília no leito em que eu delirava de dores.

No outro dia, logo cedo, recebi a visita do doutor Jorel - lembro do nome por ser o mesmo do pai do Superman, uma dessas coisas da infância que ficam gravadas para sempre - que foi logo dando o diagnóstico: anemia aguda.
Disse-me o médico que eu seria internado em um hospital para receber transfusão de sangue imediata.
À tarde, fui encaminhado ao H.FC. - o maior hospital de Piracicaba - numa ambulância sacolejante, ainda sentindo dores profundas, aumentadas com os trancos causados pelo movimento do veículo.

Logo de cara, novas coletas de sangue e internação sem prazo definido, com a recomendação de jejum absoluto.
Fiz ultrasom abdominal, biópsia da medula, comparação sangüínea, endoscopia, e mesmo me sentindo incrivelmente fraco e completamente passado, pude perceber tudo o que ocorria à minha volta.

O doutor André Lourenço, oncologista da casa, optou por não fazer transfusão de sangue, preferiu receitar um complexo vitamínico que apesar de mais lento, evitaria risco de contaminação e daria resultados mais efetivos.
Ainda em jejum, eu padecia de uma fome tal, que não me lembro de ter sentido alguma coisa parecida antes.
Fracamente eu apelava às enfermeiras para que liberassem, nem que fosse um caldinho simples, só para acalmar meu esvaziado estômago.

No sábado, quarto dia de internação, o médico veio visitar-me e, mesmo temeroso, resolveu pela liberação depois de tantos apelos de minha parte, assegurando que eu estava bem.
Assinada a papelada, o cirugião aproveitou para advertir-me a que evitasse qualquer esforço, mesmo que fosse um simples ato de dirigir um carro, que eu cancelasse todo o tipo de compromisso, que seguisse à risca os remédios prescritos e que comesse alimentos com alta carga de ferro.

Uma semana depois, voltei ao setor de oncologia do hospital para novas baterias de exames e uma avaliação clínica geral.
Foi espetacular para mim.
Mas o melhor de tudo foi quando o doutor André abriu um largo sorriso e deu o veredicto: tudo negativo, parabéns, daqui para frente basta se cuidar melhor.

Renasci, tenho só quatro aninhos contados, a partir da terrível experiência de quase passagem para a eternidade.
Entendo que Deus tinha um propósito - na doença e na restauração - e como sou apenas servo, procuro simplesmente seguir à risca o que ele quer para a minha vida, em uma ou em outra situação.

TÉRCIO DE PAIVA FARIAS







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