Dessa vez, porém, algo não previsto aconteceu.
A água que escorre por seu sistema de filtragem deixou um grão de areia em seu corpo.
Por mais que faça, contorcendo-se de todas as formas, não consegue dar jeito algum na situação.
A partícula de sílica encravou-se entre a sua carne e a concha, de uma maneira tão encaixada, que não há como tirá-la de lá.
Não chega a representar uma ameaça à sua vida, mas é terrivelmente irritante e provoca uma dor lancinante em cada movimento que faz.
Quem já passou pela experiência de ter uma pedrinha no sapato pode muito bem entender a aflição da ostra, com uma diferença: ela não pode se desfazer de sua concha para extrair o grão de areia.
Tem que agüentar o incômodo pelo período que durar.
Deus, em sua misericórdia por todas as criaturas, deu um jeito na situação da coitada.
Proveu a ostra de uma secreção especial chamada nacre, que é expelida para circundar a pedra invasora a fim de minorar o seu sofrimento.
Com o tempo, a secreção se transforma num cisto protetor que embota as arestas cortantes do grão de areia.
O processo continua até ao ponto em que a dor é finalmente eliminada.
Entretanto, um outro tipo de incômodo surge e é causado pelo volume da excrescência formada sobre o objeto invasor.
A ostra passa a ter uma nova forma de aflição, com a qual tem que, obrigatoriamente conviver, porém, sem dor.
Um dia, um apanhador de ostras consegue alcançá-la, e ao abrir sua caçapa, retira maravilhado a maior pérola jamais vista em sua vida.
A dor, o incômodo e o sofrimento da ostra, depois de um período de, mais ou menos sete anos, torna-se agora em fonte de prazer e alegria para alguém completamente estranho a ela.
É evidente que nem todas as ostras produzem pérolas.
Algumas conseguem se desvencilhar do grão de areia e não sofrem, mas também não produzem pérolas.
Outras há que convivem ininterruptamente com a dor, talvez por causa de alguma deficiência que obsta a ação curativa do sistema de secreção, o nacre transformador.
Sofrem e não produzem pérolas.
Há pessoas que não conseguem suportar as provações.
E outras há que se agigantam em resistência diante da severidade dos testes.
Estas, com certeza, contarão com o Espírito Santo, o nacre que transforma as circunstâncias aflitivas em preciosas oportunidades - pérolas de altíssimo valor - que alegrarão e enriquecerão a caminhada de tantos semelhantes necessitados.
Que o Senhor seja louvado!
TÉRCIO DE PAIVA FARIAS
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